Luís de Camões - Os Lusíadas
Estrutura Externa
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Os Lusíadas é uma epopeia composta por dez cantos, constituídos por 1102 estrofes de 8 versos (oitavas) decassilábicos, com predomínio dos versos heroicos e excecionalmente sáficos.
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O esquema rimático é normalmente abababcc (rima cruzada nos seis primeiros versos e emparelhada nos dois últimos).
Estrutura Interna
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Preposição (Canto I, estrofes 1, 2 e 3)
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Na Invocação (Canto I, estrofes 4 e 5)
Ao longo do poema, há mais três invocações:
No Canto III, estrofes 1 e 2;
No Canto VII, estrofes 78-84;
No Canto X, estrofes 8 e 9.
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Na Dedicatória (Canto I, estrofes 6-18)
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A Narração (a partir da estrofe 19, Canto I). O facto de esta narração se iniciar in media res obriga a que o relato da viagem desde Lisboa até Melinde seja feito através de uma analepse.
Os planos estruturais
É possível detetar na obra quatro planos fulcrais que constantemente se cruzam:
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Plano da Viagem – A narração dos acontecimentos ocorridos durante a viagem realizada entre Lisboa e Calecut: Partida, peripécias da viagem, paragem em Melinde, chegada a Calecut (Índia); Regresso e chegada a Lisboa. É o fio condutor de todo o poema, conferindo-lhe unidade;
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Plano da História – Relato dos factos marcantes da História de Portugal (em Melinde, Vasco da Gama narra ao rei os acontecimentos de toda a nossa História, desde Viriato ao reinado de D. Manuel I; em Calecut, Paulo da Gama apresenta ao Catual episódios e personagens representados nas bandeiras; em prolepse, através de profecias, é narrada a História posterior à viagem do Gama);
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Plano da Mitologia – A mitologia permite e favorece a evolução da ação (os deuses assumem-se, uns como adjuvantes, outros como oponentes dos Portugueses) e constitui, por isso, a intriga da obra. Os deuses apoiam os portugueses: Consílio dos Deuses no Olimpo, Consílio dos Deuses Marinhos, A Ilha dos Amores, etc;
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Plano das considerações do Poeta/ Excursos do Poeta – Considerações e opiniões do autor expressas, nomeadamente, no início e no fim dos cantos.
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Herói coletivo (povo português) – luta, esforço, divinação;
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Epopeia – glorificação e engrandecimento do herói através do “canto” do poeta/as letras como forma de morigeração/imortalização do povo português;
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Superação das adversidades;
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Glorificação do herói luso em confronto com os da Antiguidade Clássica;
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Viagem – encontro de civilizações – “dar novos mundos ao mundo”;
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Mitificação do herói – “bicho da terra tão pequeno” conseguiu superar o mar que o transcendia, vencendo as adversidades interpostas pelos Deuses;
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Ilha dos Amores – vitória do homem e das suas potencialidades criadoras;
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Casamento simbólico – vitória do Amor como energia criativa;
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A imortalidade e a recompensa para os que inspiravam a sua ação no amor à Pátria;
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Considerações do poeta:
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Valorizar a importância das lutas e lamenta que os Portugueses não as valorizem;
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Realça o valor da glória alcançado por mérito próprio;
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Lamenta a importância atribuída ao dinheiro – fonte de corrupção.
Ilha dos Amores
Episódios Epistemológicos Descrição
Presença do feminino
Comunhão Homem – Deuses
Os Portugueses foram intencionalmente
conduzidos por Vénus para a Ilha
(entendida como prémio após uma
viagem carregada de obstáculos)
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Descrição sensorial da Ilha – apelo às sensações (auditiva, visual, táctil e gustativa);
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Conjugação do mundo vegetal e animal e do homem com o divino;
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Contacto com as Ninfas – encontro, dissimulação, sedução, amor físico, casamento;
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Ritual do casamento – consubstanciação do amor físico e espiritual – “esposas”. “grinaldas”, … promessa de fidelidade…;
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O casamento é a forma de sagração e valorização do herói, depois de esforços suscitados pela viagem, conseguirá a imortalização ao esconder ao nível dos Deuses;
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A Ilha será então a recompensa pelos factos gloriosos.
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Intervenções do Poeta
(Considerações pessoais)
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A Viagem
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A História de Portugal
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A Ação Mitológica
(Os Deuses)
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(Contada a viagem de Vasco da Gama até Melinde e a história de Portugal)
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Canto I
106
Estâncias
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. Preposição (1 – 3)
(Propõe-se a cantar: as navegações e conquistas no Oriente nos reinados de D. Manuel a D. João III; vitórias em África de D. João I a D. Manuel; a organização do País durante a 1ª dinastia)
. 1ª Invocação; invocação às Tágides (4, 5)
(súplica às ninfas do Tejo (Tágides) para que lhe deem inspiração para escrever os Lusíadas)
. Dedicatória (6 – 18)
(oferecimento do poema a D. Sebastião)
. Narração (19 ---)
(a narração começa in media res e narra a viagem de Vasco da Gama até à Índia)
. Reflexões sobre a condição humana (105, 106)
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“No largo oceano”
Moçambique
Quíloa
Mombaça
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Consílio dos deuses no Olimpo
Posições opostas de Vénus e Baco
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Canto II
113
Estâncias
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De Mombaça a Melinde
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. Intervenção de Baco
. Intervenção de Vénus com a ajuda das Nereidas
. Súplica de Vénus a Júpiter
. Profecias de Júpiter
. Ação de Mercúrio
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Canto III
143
Estâncias
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2ª Invocação: invocação a Calíope (1, 2)
(Súplica a Calíope – musa da eloquência e da epopeia - porque estão em causa os mais importantes feitos lusíadas)
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Em Melinde
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. De Luso a D. Henrique
. 1ª Dinastia
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Canto IV
104
Estâncias
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Em Melinde
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. Crise de 1383 – 85
. 2ª Dinastia
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Canto V
100
Estâncias
(Considerado o canto charneira entre o tempo anterior à chegada à Índia e o futuro dos Portugueses)
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Reflexões sobre o desprezo dos seus contemporâneos pela poesia: a Epopeia e a glória
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De Portugal a Melinde
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Referência a naufrágios e tragédias marítimas
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Episódio do Gigante Adamastor
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(Narrada a viagem até à Índia, o regresso, a passagem pela Ilha dos Amores e é feito o apelo final ao Rei D. Sebastião
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Canto VI
99
Estâncias
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Reflexões sobre o valor da glória – o esforço/empenho dos heróis (95 -99)
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De Melinde à Índia
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. Consílio dos deuses marítimos
. A tempestade
. Intervenção de Vénus e das Ninfas
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Canto VII
87
Estâncias
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. Exortação dos povos da Europa cristã (2 – 15)
. 3ª Invocação: invocação às Ninfas do Tejo e do Mondego
(súplica às ninfas do Tejo e do Mondego, queixando-se dos infortúnios)
. Lamentos do poeta (78-87)
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Em Calecute
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O plano de Baco
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Canto VIII
99
Estâncias
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Reflexões sobre a traição pelo poder do ouro (97 – 99)
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Em Calecute
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. Luso
. Ulisses
. A simbologia das bandeiras
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Canto IX
95
Estâncias
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. Simbologia da Ilha (89 – 91)
. Reflexão sobre o prémio dos heróis
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De Calecute à Ilha dos Amores
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Vénus prepara o prémio para os Portugueses na Ilha dos Amores:
. Descrição da Ilha
. Desembarque
. O amor-perfeito
. A divinação dos Portugueses
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Canto X
156
Estâncias
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4ª Invocação: Invocação à Calíope (8, 9)
(Clama ajuda para ter forças para terminar os Lusíadas, uma vez que sente a morte aproximar-se)
. Lamentos do poeta pela falta de reconhecimento do povo português; sentimento de desalento provocado pela decadência moral de Portugal
. Exortação a D. Sebastião (145 – 156)
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A viagem de regresso
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O império Português
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O presente de Vénus:
. Banquete na Ilha dos Amores
. Profecias da Ninfa
.Ttétis mostra ao Gama a máquina do mundo
| Fernando Pessoa – Mensagem
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Distanciada quase quatro séculos dos Lusíadas, ambos sentem os problemas nacionais. A diferença essencial, consiste no plano factual. Camões move-se na linha das realidades acontecidas, Pessoa vai mais na asa do sonho, da imaginação do desejo;
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Obra mítica e simbólica;
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A Mensagem é considerada uma obra épico-lírica.
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Texto épico – diz respeito à composição narrativa, em verso ou em prosa, que em estilo elevado, canta uma ação heroica passada. Celebra uma ação grandiosa e heroica ou uma série de grandes acontecimentos históricos.
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Texto lírico – permite exprimir as emoções, os sentimentos, os desejos ou os pensamentos íntimos que nascem ou se apresentam ao espírito, ou seja, ao mundo interior do “eu”.
Assim, a Mensagem, é um texto épico lírico. Por um lado é possível observarmos o sentido épico pela presença de fragmentos de discursos narrativos, das alusões históricas, dos feitos históricos, do maravilhoso (com as referências mitológicas) e da expressão do espírito do povo português, por outro lado, a brevidade dos poemas, o valor em si que cada poema possui isoladamente, a expressão das emoções e a valorização do “eu” são marcas do discurso lírico.
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Fernando Pessoa revestiu a sua obra de uma carga simbólica e mítica que é anunciada desde logo, quando, no seu livro e por baixo do título Mensagem, aparece a inscrição latina “Benedictus Dominus Deus noster qui dedit nobis signum” (Bendito seja Deus Nosso Senhor, que nos deu o sinal), acompanhando, igualmente, cada um dos nomes das três partes que compõe a obra, novamente, de um inscrição latina. Brasão é seguido de “Bellum sine bello” (Guerra sem guerra); Mar Português – “Possessio maris” (Domínio do mar) e O Encoberto – “Pax in excelsis” (Paz nas alturas) terminando a obra com a epígrafe “Vaete, Fratres” (Saúde, irmãos), expressão utilizada na despedida entre membros de sociedades e que, simbolicamente, traduz o otimismo pessoano no futuro.
Mensagem (3 Partes) – Constituído por 44 composições que se agrupam em três partes distintas que correspondem a três momentos distintos da História de Portugal, representando, assim, a fundação da nacionalidade, a sua vida ou a realização e a morte, mas uma morte que pressupõe o renascimento
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1ª Parte
“Brasão”
Bellum Sine Bello
(5 Partes)
Localização de Portugal na Europa e no mundo; Definição do mito como fermento da realidade; Apresenta os Portugueses como povo guerreiro e heroico; Edificação de Pátria Portuguesa – os heróis e as mulheres que os conceberam; De um povo heroico e guerreiro a construtor de um império marítimo.
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I – “Os Campos” (12)
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“O dos Castelos” (7)
“O das Quinas” (5)
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Heróis fundadores da nacionalidade, portugueses que, por inspiração divina, realizaram os seus atos gloriosos. E foi esta predeterminação divina que conduziu a nação portuguesa e o seu povo à glória e ao seu reconhecimento.
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II – “Os Castelos” (7)
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“Ulisses” – “O mito é o nada que é tudo”
“Viriato”
“O Conde D. Henrique”
“D. Tareja”
“D. Afonso Henriques”
“D. Dinis” – “O plantador de naus a haver”
“D. João I e D. Filipa de Lencastre”
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III – “As Quinas” (5)
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“D. Duarte, Rei de Portugal”
“D. Fernando, Infante de Portugal”
“D. Pedro, Regente de Portugal”
“D. João, Infante de Portugal”
“D. Sebastião, Rei de Portugal” – “Sem a loucura que é o homem”
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IV – “A Coroa” (um poema de 12 versos)
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“Nun’Álvares Pereira”
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V – “O Timbre” (13)
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“A Cabeça do Grifo: O Infante D. Henrique”
“Uma Asa do Grifo: D. João II”
“A Outra Asa do Grifo: Afonso de Albuquerque”
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2ª Parte
“Mar Português”
Possessio
Maris
(12 Partes)
Conceção messiânica da História; Evocação dos Descobrimentos, com as glórias e tormentos; Simboliza o ideal de ser português vocacionado para o mar e para o sonho.
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I – “O Infante” – D. João I ---- D. Filipa de Lencastre
II – “O Horizonte” – Símbolo do indefinido, longe, mistério, desconhecido, mundo a descobrir, objetivo a atingir;
III – “O Padrão”
IV – “O Mostrengo”
V – “Epitáfio de Bartolomeu Dias”
VI – “Os Colombos”
VII – “Ocidente”
VIII – “Fernão de Magalhães”
IX – “Ascensão de Vasco da Gama”
X – “Mar Português”
XI – “A Última Nau”
XII – “Prece”
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O poeta evoca a expansão marítima, isto é, a conquista e o domínio dos mares pelos navegadores que, com sofrimento e sacrifício, deram uma maior dimensão à Pátria.
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3ª Parte
“O Encoberto”
Pax In Excelsis
(5 Partes)
Possibilidade de uma nova glória, orientada pelo mito sebastianista – Quinto império- império espiritual; Valorização do Homem e da sua capacidade de sonhar; Possibilidade da regeneração do país, depois da terra, o mar, o céu - espiritualidade
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I – “Os Símbolos” (5)
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“D. Sebastião” – símbolo de esperança – o renascimento das cinzas
“O Quinto Império” – universalidade, grandeza, cultura e espiritualidade
“O Desejado”
“As Ilhas Afortunadas”
“ O Encoberto”
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Sente-se a decadência e morte da nação, outrora esplendorosa. Mas antevê-se uma ressurreição na criação de um novo império nas palavras do próprio poeta.
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II – “Os Avisos” (3)
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“O Bandarra”
“António Vieira”
“Terceiro” (“Screvo meu livro à beira-mágoa”)
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III – “Os Tempos” (5)
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“Noite” (3 Partes)
“Tormenta”
“Calma”
“Antemanhã”
“Nevoeiro”
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Simbologia
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Um: Símbolo da unidade, do ser, princípio e fim de todas as coisas;
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Dois: Símbolo da dualidade, da vida e da morte;
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Três: Símbolo da trindade, da união Deus, Universo, Homem, das três fases da existência: nascimento, crescimento e morte;
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Cinco: Símbolo do homem (o homem representado de braços abertos, em forma de cruz, salientando-se ainda o peito, ao centro, lugar do coração e as pernas), é o número da união, do equilíbrio, da harmonia, é, assim, o símbolo da vontade divina que deseja a ordem e a perfeição;
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Sete: Número que está associado à criação divina e ao poder, que estabelece uma relação entre Deus e o Homem;
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Oito: É universalmente o número do equilíbrio cósmico;
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Doze: Simboliza o universo durante o seu percurso cíclico espaciotemporal, é o universo na sua complexidade interna.
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Mar: surge associado ao desvendar do desconhecido, à demanda de um novo mundo, de um novo tempo. É o espaço que concilia o perigo, a dor e a possibilidade de ultrapassar o abismo e o medo, é união, revelação e descoberta. O mar espalha o céu, o divino, é o caminho, é o espaço de concretização do sonho/da loucura. Símbolo dinâmico da vida, por isso, o mar foi o caminho para a construção do Império físico. No mar está o Mostrengo, símbolo do desconhecido, do medo, do fantástico, do misterioso que urge combater e destruir. Para lá do Mostrengo, estava o novo mundo. Vencer o Mostrengo, comparável ao Adamastor de Os Lusíadas, é vencer os medos e as inseguranças.
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Terra: Simboliza a função materna, pois é ela que dá a vida, é portanto, a fonte do ser e a sua proteção. Na Mensagem podemos associar às figuras femininas D. Tareja e D. Filipa de Lencastre. Ambas simbolizam a conceção de seres excecionais, que marcarão o destino da pátria.
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Espada: Símbolo militar, da virtude e da bravura. Representando a força, possui uma dupla simbologia: a destruição, mas também o combate à injustiça, à maldade; à ignorância, ganhando, então, uma dimensão positiva.
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Grifo: Pássaro fantástico com bico e asas de águia e corpo de leão, remete para a ideia da solidão e estabelece ligação entre o céu e a terra, ou seja, entre o divino e o humano. Na Mensagem, o Infante D. Henrique é a cabeça do grifo, o guia espiritual, aquele que congrega o poder terreno e missão divina. Na verdade, esta figura que se associa ao idealizar das descobertas, faz pensar num ser solitário perdido no seu sonho. D. João II e Afonso de Albuquerque são as asas do grifo, isto é, os que, respetivamente, preparam, executam o sonho, põem-no em prática.
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Ilhas Afortunadas: É o espaço onde se inventa a ideia de salvação, é lá que está o Desejado, o salvador, aquele ou aquilo que virá salvar a pátria, fazê-la renascer, construindo o Quinto Império.
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Loucura: É vista como a força motriz que conduz o homem à genialidade, à heroicidade. É um traço distintivo da grandeza, é a energia criativa, é aquilo que impulsiona à ação. Sem o sonho, sem a utopia, sem a loucura, o homem torna-se incapaz de agir, é ela que o impulsiona na sua inquietação, na busca da distância.
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Padrão: Monumento erigido para assinalar as descobertas, é um símbolo de posse, de poder, é a afirmação da conquista constante que traduz a insatisfação permanente, o desejo de ir mais além.
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Nau: Simboliza a viagem, a descoberta de novos mundos, novas culturas, que permitirão o alargamento do conhecimento. Numa travessia difícil, a nau representa a segurança.
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Noite, Tormenta, Calma, Antemanhã, Nevoeiro: Títulos dos cinco poemas que constituem a terceira secção, denominada Os Tempos, da terceira parte da obra e podem ser lidos como um todo.
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Noite: Tempo do sono, da morte, da suspensão das energias e um momento de letargia. Representa o estado do país que perdeu o Poder e o Renome;
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Tormenta: Na Bíblia, representa a intervenção de Deus, nomeadamente a Sua cólera e, pressupõe uma ideia de agitação, que trará, no futuro, uma mudança. Simboliza as aspirações do homem desejoso de uma vida menos banal;
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Calma: Conota a ideia de pacificação, de desejo de regresso à tranquilidade, de reflexão;
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Antemanhã/Manhã: Simboliza o tempo em que a luz ainda está pura, em que não há corrupção. É sempre o início de qualquer coisa, um tempo de descoberta, de recomeço, de esperança, de possibilidade, de redenção, de revelação. Antemanhã é a passagem das trevas para a claridade.
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Nevoeiro: Metáfora de Portugal em que tudo é vago, indeterminado. No entanto, o facto de o país estar envolto nesse nevoeiro conota a possibilidade de surgir o Encoberto, uma vez que desse estado transitório pode nascer uma revelação.
Os Lusíadas versus Mensagem
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O título Os Lusíadas remete para o herói coletivo da obra, os lusíadas, ou seja, os filhos de Luso, o progenitor da tribo dos lusitanos e o fundador da Lusitânia, suposto filho ou companheiros de Baco. Os descendentes de Luso são caracterizados logo nas primeiras estrofes do poema como “forte gente de Luso”, cujo destino é realizar feitos grandiosos. Camões canta a descoberta do caminho marítimo para a Índia, numa viagem cheia de perigos, comandada por Vasco da Gama. De volta à pátria, já com o objetivo alcançado “a Lusitana gente” é premiada com a Ilha dos Amores, onde marinheiros e ninfas se unem num casamento eterno que os imortalizará. O que é de evidenciar é o facto de Camões ter dado ao seu poema, não o nome de um herói individual, mas de ter atribuído à sua epopeia um nome que logo nos anuncia a história de todo um povo – “Os Lusíadas”.
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Em relação ao título Mensagem o leitor pode interpretá-lo fazendo diferentes abordagens. Numa primeira leitura, pode ser interpretado como significado apenas uma comunicação, uma missiva que esclareceria quem lesse a obra dado o seu caracter hermético. Numa leitura mais profunda e simbólica, é possível associar o número de letras que compõe a palavra mensagem com o da palavra Portugal, ambas têm oito letras – Oito é universalmente o número do equilíbrio cósmico – e é ainda possível associa-lo às oito pontas da Cruz da Ordem dos Templários, mais tarde reformulada e designada por Ordem de Cristo, que estava presente nas caravelas Quinhentistas.
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Os Lusíadas são uma alegoria, com a intriga dos deuses mitológicos a darem unidade à ação a favorecerem o seu desenvolvimento. Eles exprimem as forças e dificuldades que se apresentavam ao espírito humano na aventura marítima, mas não são mais do que seres efabulados para o Poeta mostrar que são os nautas e todos os heróis lusíadas que merecem a mitificação. Ao longo da Epopeia, Camões procura mostrar a capacidade dos Portugueses que, ao construírem e alargarem o império, permitiram o encontro entre o ocidente e o oriente.
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Traços Comuns
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Separados temporalmente por quatro séculos, Os Lusíadas e a Mensagem cantam Portugal, um país que foi ou um país que há de ser. Ambos são “cantores da pátria, são poetas da ausência”. A pátria ora é presentificada pela memória, ora é incentivada pelo sonho.
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Quer Camões quer Pessoa têm consciência de que Portugal se encontra numa fase de declínio e ambos perfilham um desejo de renovação da pátria, resultado do esforço do homem. Nos dois textos, os poetas vêm D. Sebastião como um salvador, seja como “poderoso rei” em Os Lusíadas, seja daquele que encarna a loucura como traço de grandeza na Mensagem.
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Em ambas as obras, é nítida a preocupação arquitetónica, a estrutura rigorosa e equilibrada, que mostram que a sua construção obedece a um plano meticulosamente idealizado.
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Os dois poemas estão “impregnados duma conceção mística e missionária da História portuguesa (talvez seja melhor dizer missionante, para evitar equívocos) ”.
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Ao longo de Os Lusíadas e da Mensagem constata-se que nada se alcança sem esforço, sem dor. Para os dois poetas, a teoria do heroísmo é a do sacrifício.
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«”O Mostrengo”, do mesmo modo que o Adamastor, opõe à hostilidade bravia da Natureza a energia indómita dos Portugueses»
| A Mensagem é mítica e simbólica. Surge tripartida, a traduzir a evolução desde a sua origem, passando pela fase adulta até à morte, a que se seguirá a ressurreição. A primeira corresponde ao nascimento, com referência aos mitos e figuras históricas até D. Sebastião, identificados nos elementos dos brasões. Dá-nos conta do Portugal erguido pelo esforço dos heróis e destinados a grandes feitos. Na segunda parte, surge a realização e vida; refere personalidade e acontecimentos dos Descobrimentos que exigiram uma luta contra o desconhecido e os elementos naturais. Mas, porque “tudo vale a pena”, a missão foi cumprida. Na terceira parte aparece a desintegração, havendo, por isso, um presente de sofrimento e mágoa. Anseia-se pela regeneração que será anunciada por símbolos e avisos.
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